quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

“Ter todas as poupanças investidas num único depósito não é uma estratégia tão conservadora como as pessoas pensam”

O subdirector-geral da Schroders para a Península Ibérica acredita que há neste momento boas oportunidades nas acções e obrigações de empresas. No entanto, a incerteza e a volatilidade recomendam a adopção de uma estratégia conservadora.

Fazer previsões de investimento não é fácil. Principalmente num ano como este que acaba de estrear e que está recheado de problemas que transitam do passado. Perante a incerteza sobre a resolução da crise da dívida soberana na Europa, Pedro Assis, subdirector-geral da Schroders, aconselha os investidores a seguirem uma estratégia de investimento conservadora. Mas avisa: os activos de refúgio estão caros.

Depois de um ano de 2011 para esquecer, está mais optimista para 2012?
Em termos económicos é provável que 2012 seja um ano pior. Especialmente no que se refere à Europa, estamos mais pessimistas do que o consenso geral dos analistas, e acreditamos mesmo que há o risco da Europa entrar em recessão. Subsiste a incerteza em relação à forma como vai ser resolvido o problema da desalavancagem das economias desenvolvidas, com o foco nas economias europeias. Este e outros factores vão fazer com que o crescimento económico seja mais reduzido. Mas também é importante dizer que os ciclos dos mercados não são coincidentes com os ciclos económicos: os mercados desenvolvidos começaram a última recuperação no meio de uma recessão, e os mercados emergentes começaram-na em Outubro de 2008.

Um menor crescimento económico na Zona Euro terá impacto nos mercados de acções e de dívida?
Numa fase inicial vai afectar os mercados. Aliás, eles já estão a descontar essa realidade, e os mercados de acções parecem-nos razoavelmente baratos. Ao contrário do que acontece em alguns mercados de dívida pública de refúgio, que estão caros. Basta olhar para os preços das obrigações de dívida pública de países como os EUA, a Alemanha e a Suíça. O aumento do receio generalizado dos investidores em relação ao futuro tem levado a um aumento da procura por este tipo de activos, o que fez com que os preços tenham subido para níveis difíceis de justificar noutras circunstâncias. As remunerações destes investimentos em dívida pública são muito baixas. Em alguns casos chegam a ser negativas em termos reais. Tal como nestes mercados de dívida podemos já ter ultrapassado o ponto de equilíbrio, algo semelhante pode ter acontecido com os activos de maior risco, mas em sentido inverso. Ou seja, há activos mais arriscados cujos preços estão demasiado deprimidos e podem já ter incorporado grande parte das más notícias macro-económicas esperadas para 2012.

Na opinião da Schroders onde estão as melhores oportunidades de investimento para este ano?
Estamos optimistas para as obrigações com risco de crédito emitidas por empresas, incluindo as obrigações ‘high yield'. Estas são aquelas que apresentam as melhores perspectivas. E gostamos de acções de empresas com negócios fortes, balanços estáveis e com forte capacidade de distribuição de dividendos. É possível encontrar empresas com estas características em diversos sectores e regiões.

A questão é que perante a incerteza actual e a concorrência dos depósitos, cuja remuneração atinge os 5%, é difícil convencer os investidores a aplicarem em activos de maior risco...
Os depósitos têm um lugar nas carteiras dos investidores, mas não devem dominar a carteira nem estar concentrados. Os depósitos, títulos de dívida de curto e médio prazo dos bancos e alguns produtos estruturados são formas de financiamento ou remuneração da instituição que os comercializa, pelo que encerram riscos de crédito e liquidez que devem ser analisados com critério. Sobretudo se dominam a carteira e ainda mais se há a predominância de um único emitente. A concentração de activos de forma a que uma parte considerável do nosso património esteja dependente de um único elemento de risco não é recomendável. Isto é válido para qualquer aforrador ou investidor em qualquer parte do Mundo e em qualquer momento. Por outro lado é muito importante garantir que se compreende exactamente o perfil de risco, retorno e liquidez de qualquer produto estruturado. Acreditamos que mesmo os investidores mais conservadores devem diversificar o mais amplamente possível as suas poupanças por diversos activos, sectores, regiões e instituições.

E vê uma "luz ao fundo do túnel" para a resolução da crise da dívida soberana na Europa?
Sim, mas é necessária uma maior integração fiscal na União Europeia. Na cimeira europeia de Dezembro houve algum progresso mas não se conseguiu produzir um acordo que vise a consolidação orçamental e uma maior intervenção do BCE. É necessária uma maior integração fiscal que permita que naturalmente hajam fluxos compensatórios entre países com superavit e países com défices. É preciso também que sejam colocados ao dispor do BCE mecanismos que facilitem a gestão do volume de liquidez em circulação e disponível para o sistema financeiro e, por essa via, para as empresas.

E se essas soluções não forem tomadas?
Os mercados pagarão em volatilidade a manutenção da expectativa. Há o risco de países que até aqui ainda não tiveram o estigma de enfrentarem uma revisão de ‘ratings' poderem vir a tê-la, como é o caso da França. Mas se isso acontecer, não vejo isso como um factor dramático. Pode até funcionar como um catalisador. Porque pode levar à urgência de tomada de decisões que têm sido arrastadas ao longo dos últimos tempos.

Se os líderes europeus não se entenderem, o que podemos esperar do desempenho dos mercados de dívida e de acções?
Esse é o pior cenário possível para os mercados: que a actual situação de impasse se arraste. Mas acredito que, a partir do momento em que haja um evento catalisador, as decisões políticas que tardam sejam tomadas e que alguns mercados accionistas e de dívida vão começar a valorizar. Há bastante valor nos activos de maior risco, exactamente por terem desvalorizado bastante. E há investidores de longo prazo, como Warren Buffett, que já começaram a comprar.

E qual é vosso conselho para este ano?
Recomendamos que por enquanto os investidores tenham uma estratégia mais conservadora do que o habitual, mas isto não deve ser lido como uma recomendação para cortar todo o tipo de risco por duas razões: porque isso não é possível, como vimos, e porque há valor nos activos de risco. O melhor conselho a ter em conta para este ano é: não tente adivinhar o que vai acontecer, mas sim diversificar por forma a não ficar dependente de um único resultado.
fonte:económico

Sem comentários:

Enviar um comentário