quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nos EUA, mais mulheres abandonam o mercado de trabalho e voltam a estudar


Pela primeira vez em três décadas, mais mulheres jovens estudam que trabalham no país
Laura Baker­, 24, moradora de Denver: emprego na Starbucks deu lugar a um mestrado
Um enorme contingente de trabalhadores está abandonando seus postos nas empresas, e as mulheres são maioria. Na verdade, muitas mulheres jovens. Elas não estão desistindo de trabalhar. Ao invés disso, essas mulheres parecem estar deixando o trabalho para depois: a prioridade agora é estudar. Nos Estados Unidos, há – pela primeira vez em três décadas – um numero maior de mulheres jovens estudando do que trabalhando.

"Eu trabalhei meio período na Starbucks por um ano e meio", contou Laura Baker, 24 anos, que acaba de começar o mestrado em comunicação estratégica na Universidade de Denver. "Eu não queria ficar ali para sempre. Eu precisava fazer alguma coisa."

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Muitos economistas acreditavam que o contingente de trabalhadores diminuiu – puxando para baixo a taxa de desemprego de novembro – em função do número de profissionais experientes que desistiram de conseguir um novo emprego. Muitas das pessoas que deixaram o mercado de trabalho são jovens buscando desenvolver suas habilidades, algo comparável com o boom econômico do pós-guerra, quando milhões de veteranos da segunda guerra foram para as universidades com a ajuda do crédito estudantil, ao invés de ingressarem imediatamente no mercado de trabalho, sobrecarregando-o.

Como ocorreu anteriormente, um dos sexos é o principal beneficiário dessa mudança. Embora mulheres jovens com idade em torno de 20 anos percebam a atual calmaria econômica como o momento correto para desenvolver suas habilidades, os homens da mesma idade tendem a se agarrar ao primeiro trabalho que conseguem encontrar. Segundo os economistas, a principal consequência é que no futuro as mulheres terão uma grande vantagem sobre os homem, cujas opções de carreira já começam a ficar limitadas.

Ao menos por enquanto, muitas mulheres jovens ainda sentem que esse jogo está contra elas.

"Quase todos no meu curso são mulheres", afirma Baker, que espera que um título de mestrado a ajude a conseguir um emprego na área de comunicações de alguma organização sem fins lucrativos. "Talvez isso ocorra em função do tipo do curso, mas também porque nós mulheres sentimos a necessidade de estudar por mais tempo para ter a chance de competir em qualquer área".

As mulheres continuam recebendo salários inferiores. E nos últimos dois anos e meio, desde que a recuperação começou, homens entre 16 e 24 anos obtiveram um total de 178.000 postos de trabalho, enquanto as mulheres perderam 255.000, de acordo com o Ministério do Trabalho.

Aparentemente desencorajadas pelo número restrito de ofertas de trabalho, 412.000 mulheres jovens deixaram de fazer parte da população ativa desde o início da recuperação, o que significa que elas deixaram de procurar emprego.

Entre os homens jovens, a força de trabalho não se alterou desde o início da recuperação, apesar de ter caído durante o período de recessão. Independentemente da faixa de idade, as mulheres desempregadas têm 35 por cento mais chance de desistir de procurar por um novo emprego do que os homens desempregados.

Alguns estudos sugerem que as mulheres são mais exigentes do que os homens na hora de escolher um emprego. Uma vez que já recebem salários mais baixos, as mulheres tendem a não querer trabalhar quando os salários caem ainda mais, sobretudo quando podem contar com um marido empregado (ou reempregado, como é comum nos dias de hoje); As mulheres também relutam mais em trabalhar nos turnos da noite e durante os fins de semana, de acordo com dados do governo sobre como os americanos gastam seu tempo, em parte porque as mulheres têm mais responsabilidades domésticas.

"Os empregos à disposição não são muito bons e, por alguma razão, os homens parecem ter mais coragem de aceitá-los", afirmou Jonathan L. Willis, economista do Federal Reserve Bank de Kansas City. "As mulheres procuram pelos mesmos empregos, mas concluem que serão mais produtivas fazendo outra coisa".

Mas há também influências sociais que afetam a capacidade das pessoas de aceitar um emprego menos bem pago, ou voltar para a escola.

"Ainda há uma pesada mensagem cultural que diz que os homens devem ganhar o seu sustento, e eles se sentem angustiados com a ideia de deixarem de ser os provedores", afirma Stephanie Cootz, diretora de pesquisa no Conselho de Famílias Contemporâneas. "Há muito mais progresso na superação da "mística feminina" do que na da "mística masculina".

E, à medida em que os papéis mudam, as faculdades comunitárias registram recordes de matrículas.

Homens e mulheres estão retornando à escola, mas cresce com muito mais velocidade o número de matrículas feitas pelas mulheres, que já eram maioria nos campi universitários mesmo antes da crise. Nos últimos dois anos, o número de mulheres entre 18 e 24 anos que frequentavam a escola aumentou em mais de 130.000 pessoas, em comparação com um aumento de apenas 53.000 homens jovens.

De certa forma, as mulheres jovens já terão uma vantagem sobre os homens na próxima década, independentemente do déficit educacional. Muitos dos tipos de trabalho que mais irão crescer, como auxiliares de saúde e higienistas dentais, são tipicamente realizados por mulheres. Isso não significa que de agora em diante os homens não poderão exercer essas profissões, mas talvez eles não queiram.

"As jovens de hoje podem fazer o que quiserem, trabalhar com qualquer coisa. Mas, se um menino se interessa por uma profissão tipicamente feminina, ele é ridicularizado", afirma Coontz. "Muitos caras não entendem o que está acontecendo com os trabalhos geralmente masculinos com salários baixos ou médios."

Empregos na indústria, geralmente ocupados por homens, e em outros setores que envolvem trabalho braçal passam por uma fase de declínio estrutural. Essas são carreiras difíceis de manter por muito tempo, já que a força juvenil um dia acaba. E hoje em dia, muitos trabalhadores da indústria não contam mais com suas aposentadorias quando seu corpo já não aguenta mais.

"Não me surpreende que, em uma economia decadente, as mulheres busquem melhorar sua escolaridade", afirma Heather Boushey, economista no Centro pelo Progresso Americano, uma organização de pesquisa de centro-esquerda. "A verdadeira questão é: Por que mais homens não estão seguindo o mesmo caminho?"

O principal risco quando um trabalhador retoma os estudos são as dívidas com o crédito estudantil. O valor das mensalidades tem subido acima da inflação todos os anos, tendência acelerada pelos cortes orçamentários do governo.

"O subsídio pago por estudante diminui 25 por cento nos últimos três anos", afirmou Stephen Scott, presidente da Faculdade Técnica Comunitária de Wake, em Raleigh, na Carolina do Norte, uma das faculdades comunitárias que mais cresce em todo o país. Por consequência, o número de alunos por sala de aula aumentou e o valor das mensalidades também. Mesmo assim, o número de novos estudantes – em sua maioria mulheres – não para de crescer.

"Temos cerca de 6.000 estudantes em nossa lista de espera, porque não temos recursos para oferecer mais vagas", afirmou.

Aqueles que frequentam as caras faculdades particulares, como Baker, terão ainda mais dificuldade para receber de volta seu investimento em educação. Incluindo os empréstimos que financiaram sua graduação no Wartburg College em Waverly, Iowa, ela irá completar seu mestrado em 2012 devendo cerca de 200.000 dólares.

"Eu tenho fé que um dia conseguirei um bom trabalho, que me pague o suficiente para viver e para quitar minhas dívidas", completou, "e, se eu tiver sorte, que me deixe feliz".

Fonte:New York Times

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