23/12/11 00:04 | António Costa
Pedro Passos Coelho tomou a decisão mais difícil do ponto de vista político ao escolher a proposta dos chineses da Three Gorges na privatização da EDP.
Mas tomou, em simultâneo, a melhor decisão para a companhia e para o próprio País.
Como cedo se percebeu, a privatização de 21,35% da EDP foi um processo atribulado, com muitas pressões, públicas e privadas, explícitas e implícitas. Seria, por isso, um teste à capacidade do Governo, e do primeiro-ministro, de decidir em função do racional económico e não do interesse político, no sentido pouco ou nada nobre do tema. O estatuto de protectorado em que Portugal vive, a dependência europeia da Alemanha e da chanceler Merkel, tornavam óbvio a forte candidatura da E.ON, mesmo quando a sua oferta de preço e industrial estava longe de ser a melhor.
A verdade é que Pedro Passos Coelho ganhou a credibilidade e independência, desde logo internacional, tantas vezes questionada pelos alinhamentos, às vezes acríticos, com as posições de Merkel nas questões europeias. A escolha da melhor proposta é, regra geral, uma escolha inquestionável, mas, neste caso, as últimas semanas indiciavam que a oferta da Three Gorges, no valor global de mais de oito mil milhões de euros, poderia não ser a escolhida. Ao sê-lo, ganhou a EDP, mas também o Governo e o País, porque há um processo de privatizações em curso, uma vintena de empresas que tem de ser vendida nos próximos dois anos.
A Three Gorges é chinesa e isso, em determinado momento, parecia um impeditivo, porque era pública, porque era comunista, porque era ‘amarela'. Apenas preconceitos e demagogias, porque o capital chinês está no mundo, nos EUA, no Brasil, em todos os mercados desenvolvidos, e é, aliás, o mais capitalista de todos. E, além disso, existe, o que não é verdade para outros países, particularmente ocidentais.
Mais relevante, essa sim uma questão essencial, é saber se os novos accionistas têm um projecto industrial e se têm um nível de gestão exigente e que permita o crescimento da companhia. E têm. Além do que vão pagar ao Estado, a Three Gorges financia o capital da empresa, abre novos mercados de investimento e, em comparação com todas as outras propostas, é a que garante a manutenção da independência da empresa e da sua gestão.
Esta privatização abre um novo ciclo, que coincide com um novo mandato da gestão da empresa. Estão, assim, criadas as condições para António Mexia promover, num novo contexto, o que fez nos últimos anos.
António Costa, Director
antonio.costa@economico.pt
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